Saiba como a análise de dados educacionais enriquece a Educação

Por BRUNNA BUSCH
fevereiro, 24

Data is the new oil”, em português, “Os dados são o novo petróleo”, é uma frase criada por Clive Humby, um matemático inglês especialista em ciências de dados que tem sido repetida por inúmeros executivos e economistas: saber usar dados da melhor forma pode ser muito proveitoso, trazendo muitos benefícios e ganhos para quem os domina atualmente.

Com a consolidação da internet pelo mundo, impulsionada durante o século XX, essa nova fonte de riqueza transformou a nossa sociedade e, hoje, a captura de dados e sua utilização influenciam diretamente nossas vidas, todos os dias. Nossos hábitos, comportamentos, escolhas, compras e até mesmo nossos chats ou e-mails, são monitorados o tempo inteiro, definindo tudo o que recebemos, como informações, conteúdos, ofertas e notícias. 

Porém, não pense que a captura de dados ocorre somente na internet! Cadastros que fazemos em estabelecimentos que oferecem serviços, compras que realizamos em lojas físicas e número de transações bancárias que efetuamos são exemplos de fontes de informação riquíssimas, que também vão alimentar bancos de dados que posteriormente serão utilizados para nos impactarem de forma assertiva.

Assim, no século XXI, é de conhecimento geral que capturar dados é fonte de riqueza. Entretanto, também se sabe que apenas os capturar não é suficiente, pois a potência está na maneira em que se analisa as informações armazenadas – deve haver inteligência por trás dos dados para que descobertas que podem transformar a realidade sejam extraídas e, desta forma, não apenas impactem negócios de grandes empresas e organizações, mas de diferentes naturezas, até mesmo aquelas do universo da Educação.

Entrando neste universo, qual a diferença entre dado e informação?

Basicamente, os dados são números, sem nenhuma relevância, chamado de registro não processado. Porém, quando interpretados, se tornam em informação.

E é isso que as escolas devem se manter atentas às informações. Sendo assim, como números e dados podem ser valiosos para o ambiente educacional?

Por que é importante analisar dados educacionais?

As escolas são fontes de informações riquíssimas: com os dados que podem ser colhidos nessas instituições, muitas decisões e ações podem ser realizadas a partir das análises. Mas, claro, é importante que essas informações sejam regulamentas conforme a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.

Esses dados podem fornecer uma base sólida para a tomada de decisões em todos os níveis do sistema educacional, desde definições em sala de aula e na escola, até mesmo nos níveis governamentais. Assim, quando voltamos nosso olhar para uma Instituição Escolar, as análises de dados podem ser aplicadas tanto em nível gerencial quanto em nível pedagógico.

O nível gerencial, como o próprio nome diz, se refere à gestão escolar, que tem como objetivo melhorar a eficiência operacional. Com a análise de dados é possível prever tendências e contribuir com o planejamento estratégico, inclusive na alocação de recursos, identificando áreas que requerem maiores investimentos e a implementação de políticas educacionais eficientes. Assim, a escola poderá se preparar para enfrentar desafios e se adaptar a mudanças, de acordo com as necessidades dos alunos, das famílias, dos colaboradores, isto é, da comunidade escolar como um todo.

O nível gerencial é um assunto de extrema importância, mas que deixaremos para explorar em outra oportunidade. Aqui iremos falar um pouco sobre a análise de dados educacionais em nível pedagógico, isto é, nas informações que podem ser capturadas, analisadas e influenciar diretamente nas decisões que a escola faz para impactar os processos de ensino-aprendizagem, permeando as questões individuais de cada aluno, assim como nas estratégias de ensino.

Como explorar dados educacionais para beneficiar os processos de ensino-aprendizagem?

Antes de explorarmos boas práticas que podem ser adotadas, é importante dizer que para uma cultura de uso de dados educacionais ser implementada, é necessário que a escola como um todo saiba da importância de utilizar dados e informações para a definição de todas as suas estratégias. Assim, as práticas escolares sempre deverão prever quais dados serão colhidos e de que forma isso ocorrerá. Somente desta forma, gestão e equipe pedagógica caminharão de forma alinhada, tendo como objetivo chegar em um mesmo lugar a partir das informações e dados: aquele que contribuirá para uma educação de qualidade, cada vez melhor.

Outro ponto relevante que deve ser trazido é que ao trabalhar com dados educacionais muitos aspectos podem ser analisados, dependendo do olhar que se tem sobre eles. Assim, de acordo com o indivíduo (ou equipe) que elabora a análise ou a coleta dos dados, características podem ser ressaltadas ou omitidas, interpretações dos dados educacionais podem pender para um ponto de vista ou outro. Ou seja, é importantíssimo sempre ter a consciência de que as informações podem ser as mesmas, mas a perspectiva de quem as colhe ou analisa pode ser diferente e, portanto, impactar nos dados educacionais que serão apresentados.

Vamos lá?

Identificação de tendências e padrões no desempenho dos alunos: um dos maiores benefícios que os dados educacionais oferecem! Esta característica não apenas ajuda os profissionais da educação a ajustarem suas práticas de ensino, mas também permite que as escolas identifiquem áreas que podem precisar de atenção especial, como, por exemplo, a necessidade de observar mais atentamente determinadas disciplinas, turmas e professores.

 É possível analisar a performance dos alunos durante um período de tempo para verificar se alguma ação é necessária para melhorar os processos. Também é possível, a partir das tendências que os dados educacionais apresentarem, identificar o desempenho positivo e compreender quais práticas e condutas foram utilizadas para gerar esses resultados e, assim, se possível, disseminá-las para impactar positivamente outros estudantes e professores. 

Criação de indicadores de qualidade: os dados educacionais podem ser transformados em indicadores de qualidade na educação por meio de uma análise cuidadosa e da definição de métricas relevantes, ou seja, a criação de índices de qualidade e performance próprios, que constituem um ou mais fatores ao desempenho dos alunos ou dos profissionais da educação em testes e avaliações.

Esses indicadores ajudam a avaliar a eficácia do sistema educacional, identificar áreas de melhoria e fornecer insights para orientar decisões, de uma forma sintética e clara. Por exemplo, se o objetivo é melhorar a proficiência em leitura de uma turma, o indicador de qualidade a ser acompanhado pode ser a porcentagem de alunos que atingiram ou ultrapassaram o nível de proficiência em leitura em avaliações específicas. 

Monitoramento pedagógico: neste caso, o olhar volta-se para a avaliação da eficácia das estratégias de ensino e dos currículos implementados. A coleta de dados educacionais é essencial para que professores e gestão escolar possam analisar os resultados em avaliações para determinar quais métodos são mais eficazes e ajustar suas abordagens conforme necessário.

Neste ponto, além de a escola criar suas próprias avaliações, é importante considerar também o desempenho dos estudantes em avaliações externas, como, por exemplo, a Prova Brasil, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Assim, é possível que a escola tenha uma espécie de fotografia que pode ser comparada com o cenário de outras instituições escolares e, assim, poderá definir estratégias pedagógicas para atingir metas.

Personalização do ensino: o monitoramento do progresso individual dos alunos ao longo do tempo é um tipo de dado educacional que pode contribuir positivamente com a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem. Por meio de avaliações individuais em atividades e testes, professores e coordenadores pedagógicos conseguem acompanhar de maneira muito próxima e rápida questões individuais dos estudantes. Por exemplo, alunos que enfrentam defasagem e lacunas de aprendizagem são identificados de forma ágil e, desta forma, é possível criar estratégias para dar suporte a esses estudantes de forma personalizada, logo que apresentem alguma dificuldade ou questão. 

As plataformas online de ensino remoto podem contribuir fortemente com esse acompanhamento personalizado e na gestão dos processos escolares.

Desenvolvimento Profissional: a equipe pedagógica tem a possibilidade de utilizar os dados educacionais para direcionar sua formação. Professores são capazes de identificar áreas em que podem aprimorar suas habilidades, conhecimentos e aquelas que devem receber maior atenção, ao compreenderem os métodos de análise e interpretação desses dados, os resultados apresentados, nos padrões, nos indicadores de qualidade, no monitoramento e no desempenho individual dos alunos.

Quando os profissionais da educação utilizam os dados educacionais para aperfeiçoar suas práticas, a Educação como um todo é melhorada. Metas são definidas e estratégias são direcionadas, contribuindo de forma eficaz para alcançar os objetivos educacionais. 

Os dados podem ser o novo petróleo, mas os dados educacionais podem ser o combustível para transformar a educação: a formação dos estudantes tendo informações precisas e essenciais como base tem o poder de ser mais assertiva, personalizada e poderosa!  

Leia também: